Se eu não for reencarnacionista, é nesta vida que tenho de criar as condições para realizar meus objetivos, construir a minha obra, deixar o meu legado. Mas isso não significa que tenhamos de nos lançar de qualquer modo em qualquer ocasião que se apresente. O ditado do “cavalo arriado que não passa duas vezes” nos serve de recomendação para estarmos atentos e preparados para as oportunidades.
Passou o seu momento de falar com aquela pessoa com que você queria viver? Passou aquela entrevista de emprego que você almejava? Passou o anúncio para o concurso na universidade? Certo, mas não significa que agora só seja possível lamentar a chance perdida. Afinal de contas, podem surgir outras ocasiões. Como lembram Nelson Motta e Lulu Santos, na canção “Como uma onda”, “a vida vem em ondas como o mar”. Quer algo mais parecido com a vida humana do que as ondas no mar?
De fato, não se deve ficar permanentemente sentado aguardando que o cavalo passe. Isso pode parecer óbvio, mas algumas pessoas têm essa ilusão e ficam apenas na espera. Essa atitude remete àquela antiga piada do bêbado que sai do boteco, senta na calçada, pega a chave e fica com a mão esticada. O guarda passa e, ao observar a cena, pergunta: — O que o senhor está fazendo? — Se a Terra é redonda e gira, estou esperando a minha casa passar. Essa anedota faz alusão ao pensamento mágico de quem fica aguardando, passivo e, só pela crença, espera que a chave vá encaixar na porta de acesso ao lugar em que pretende chegar. Se trouxermos a ideia latina de a sorte segue a coragem para o nosso cotidiano, ela soaria bem próxima dos versos do compositor paraibano Geraldo Vandré “Quem sabe faz a hora / Não espera acontecer”, na música “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores”[1]. Estou fazendo a oportunidade? Não, estou fazendo a hora. A hora é agora, preciso ficar em estado de prontidão para,quando a oportunidade surgir, eu esteja apto a segurá-la. A ocasião pode passar, pode ser refeita, embora daquele modo ela não venha mais. Diante dessa perspectiva, a nossa clareza sobre finitude nos obriga a ter uma atenção muito grande sobre quais são os nossos objetivos, de fato. Para isso é preciso ter foco. O foco é o horizonte da minha pré-ocupação.
Qual a lógica? Estar pré-ocupado, ter uma ocupação prévia.
Existem coisas à minha volta que eu posso nem sequer notar se não estão no meu campo de foco ou de interesse. Podem passar por mim e eu não observá-las. Foco, nesse contexto, portanto, diz respeito não só à preparação da competência, mas à atenção para poder enxergar o momento.
É preciso chamar a meu favor aquilo que está no meu foco, provocar a ocasião. Como? Procurando.
O pensamento da coragem é tomar a iniciativa de ir até a montanha. O pensamento só da sorte é o da montanha visitando o iluminado. Do mesmo modo, de nada adianta ter expertise, competência em alguma área, se não houver acuidade para visualizar a ocasião quando ela se anuncia.
“O destino embaralha as cartas,
e nós as jogamos.”
Texto de : Mario_Sérgio_Cortella
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