Não temos todo o tempo do mundo

Somos finitos. Portanto, as nossas circunstâncias e as nossas oportunidades também o são.Meu tempo é o meu tempo de vida.
Texto de Mário Sergio
Se eu não for reencarnacionista, é nesta vida que tenho de criar as condições para realizar meus objetivos, construir a minha obra, deixar o meu legado. Mas isso não significa que tenhamos de nos lançar de qualquer modo em qualquer ocasião que se apresente. O ditado do “cavalo arriado que não passa duas vezes” nos serve de recomendação para estarmos atentos e preparados para as oportunidades.
 Ainda que a percepção de que o momento passa seja um sinal de inteligência, esse ditado, quando levado ao pé da letra, soa muito fatalista. Aquele cavalo pode não passar novamente, nem do mesmo modo. Tampouco significa que o momento passado não possa ser reinventado. Se aquele cavalo não passa, nada impede que se vá atrás de outra montaria. 
Passou o seu momento de falar com aquela pessoa com que você queria viver? Passou aquela entrevista de emprego que você almejava? Passou o anúncio para o concurso na universidade? Certo, mas não significa que agora só seja possível lamentar a chance perdida. Afinal de contas, podem surgir outras ocasiões. Como lembram Nelson Motta e Lulu Santos, na canção “Como uma onda”, “a vida vem em ondas como o mar”. Quer algo mais parecido com a vida humana do que as ondas no mar? 
De fato, não se deve ficar permanentemente sentado aguardando que o cavalo passe. Isso pode parecer óbvio, mas algumas pessoas têm essa ilusão e ficam apenas na espera. Essa atitude remete àquela antiga piada do bêbado que sai do boteco, senta na calçada, pega a chave e fica com a mão esticada. O guarda passa e, ao observar a cena, pergunta: — O que o senhor está fazendo? — Se a Terra é redonda e gira, estou esperando a minha casa passar. Essa anedota faz alusão ao pensamento mágico de quem fica aguardando, passivo e, só pela crença, espera que a chave vá encaixar na porta de acesso ao lugar em que pretende chegar. Se trouxermos a ideia latina de a sorte segue a coragem para o nosso cotidiano, ela soaria bem próxima dos versos do compositor paraibano Geraldo Vandré “Quem sabe faz a hora / Não espera acontecer”, na música “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores”[1]. Estou fazendo a oportunidade? Não, estou fazendo a hora. A hora é agora, preciso ficar em estado de prontidão para,quando a oportunidade surgir, eu esteja apto a segurá-la. A ocasião pode passar, pode ser refeita, embora daquele modo ela não venha mais. Diante dessa perspectiva, a nossa clareza sobre finitude nos obriga a ter uma atenção muito grande sobre quais são os nossos objetivos, de fato. Para isso é preciso ter foco. O foco é o horizonte da minha pré-ocupação.
Qual a lógica? Estar pré-ocupado, ter uma ocupação prévia. 
Existem coisas à minha volta que eu posso nem sequer notar se não estão no meu campo de foco ou de interesse. Podem passar por mim e eu não observá-las. Foco, nesse contexto, portanto, diz respeito não só à preparação da competência, mas à atenção para poder enxergar o momento.
É preciso chamar a meu favor aquilo que está no meu foco, provocar a ocasião. Como? Procurando.
O pensamento da coragem é tomar a iniciativa de ir até a montanha. O pensamento só da sorte é o da montanha visitando o iluminado. Do mesmo modo, de nada adianta ter expertise, competência em alguma área, se não houver acuidade para visualizar a ocasião quando ela se anuncia.
 “O destino embaralha as cartas,
e nós as jogamos.”
Texto de : Mario_Sérgio_Cortella

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