Uma conversa franca para reconciliar uma família.
- Então, Dr., tô dando conta de pagar a pensão pro meu filho não. Tá pesada odemais!
- Quanto o senhor paga, Fulano?
- Tô pagando 400 agora, mas queria baixar pra 300 ou menos, se tiver como.
- O seu filho mora em Uberlândia também?
- Mora sim, mas eu não vejo ele desde que eu me separei da mãe dele. Há 07 anos...
- O senhor tem outros filhos, além desse?
- Graças a Deus não, Dr. Hehe...
- Se eu conseguisse reduzir o valor da pensão para 200 reais, o senhor ficaria satisfeito?
- Claro! Nossa, seria muito bom! É mais ou menos isso que sobra no mês mesmo, só esses 200, seria perfeito.
- O senhor sabe que é impossível criar uma criança com 200 reais por mês, mesmo que a mãe ajude com mais 200? Sem contar o valor do imenso trabalho que é cuidar de um filho e de todas as abdicações que a maternidade exige?
Aqui ele já viu onde eu quis chegar e tentou se colocar na defensiva.
Talvez alguns colegas me critiquem pela minha abordagem nada comum, mas tudo bem, eu precisava dar esse choque de realidade nesse pai.
Continuando nossa conversa...
Eu: - Então, Fulano. Muitos pais pensam dessa mesma forma, ou seja, que o valor da pensão é pago com “o que sobra” do orçamento do pai, mas é preciso mudar essa visão urgentemente. Só o que o senhor ganhou hoje aqui em casa trabalhando meio período já paga esse valor integral da pensão que foi fixada. Os juízes costumam fixar entre 25 a 30 por cento dos rendimentos líquidos do pai de pensão.
- Mas a mãe não consegue comprovar o quanto eu ganho, eu não tenho carteira assinada.
- O senhor está pensando processualmente, ou seja, como em um processo ela conseguiria provar a sua renda, quando qualquer argumento processual é inferior aos argumentos morais. Não quero aqui fazer nenhum tipo de “pregação”, mas o senhor é PAI e tem condições de dar uma vida mais digna ao seu filho. Com todo o respeito, mas o senhor vê seu filho como um boleto a ser pago todo mês e nada além disso, o que é muito triste. Eu não conheço seu filho, mas tenho toda a certeza do mundo de que existe um vazio muito grande nele e um sentimento de rejeição tremendo pelas condutas do senhor.
Ele ficou me olhando, com um olhar meio introspectivo e pensativo. Continuei...
- Não me leve a mal, Fulano, mas permita-me expandir seu horizonte de consciência para o seguinte fato: ao chegar aqui em casa, você gastou uns dois minutos fazendo carinho em cada cachorro desta casa. Os brevíssimos minutos de afeto que o senhor deu aos meus cachorros, só hoje, supera todo o afeto que o senhor deu para o seu próprio filho nos últimos 07 anos. Isso é muito triste.
Acreditem, isso caiu como uma bomba nele. Ele tentou se defender.
- Ah, Dr., é complicado, viu... Você não conhece a mãe da criança.
- Eu tenho toda a certeza do mundo de que é complicado, sempre é! Sempre temos que resolver algumas questões mal resolvidas. Por mais que a mãe seja uma “louca desvairada”, que eu duvido que seja, isso não é motivo para o senhor não lutar pelo seu filho. Tenha em mente que cuidar de um filho é muito mais nobre do que conquistar bens materiais. Torne-se o homem que trabalha para prover a melhor condição de vida possível ao seu filho e isso te tornará uma pessoa melhor - e até mais feliz - bens materiais são menos importantes.
- Bens, Dr.? Eu te falo que não sobra dinheiro.
- Então, voltando ao começo da nossa conversa, imagine que, do dia para a noite, a cada 10 reais que o senhor colocasse no bolso, três evaporassem, o que aconteceria? O senhor morreria de fome? Provavelmente não. Provavelmente o senhor teria que reduzir a sua qualidade de vida, procurar um aluguel de uma casa mais em conta, parar de beber/fumar ou pelo menos reduzir bastante, repensar cada produto que o senhor coloca no carrinho de supermercado e etc... Não é mesmo? É exatamente isso que o senhor precisa fazer! Pare com essa mentalidade de que a pensão deve ser paga com “o que sobra”.
- Mas, Dr., a mulher vai gastar esse dinheiro tudo com ela.
- Não vai! E, mesmo se gastasse, veja isso como um descumprimento de dever dela, não seu. Sua parte o senhor está fazendo. Porém, lembre-se que o foco da conversa não é o dinheiro, mas o seu filho. O senhor tem interesse em tentar se reaproximar dele?
- Tenho, Dr., mas ela não vai deixar, o senhor vai ver.
E assim eu “vi”. Entrei em contato com a ex-companheira do jardineiro e consegui estabelecer datas e horários para o exercício do direito de convivência paterno. Claro, tudo isso com muita resistência de ambos os lados, mas deu tudo certo. Nós, advogados familiaristas, estamos acostumados com isso.
Depois de alguns meses de convivência com o filho, pasmem, o pai me procurou para aumentar espontaneamente o valor da pensão alimentícia.
Aqui, eu gostaria de dizer aos pais que a coisa mais comum do mundo entre casais são brigas. Muitas vezes diálogos agressivos causam um bem-estar momentâneo na pessoa que “põe para fora” tudo o que está sentindo, mas a duras penas. Sempre busquem dialogar da maneira mais respeitosa possível, por mais sacrificante que seja, pois a mãe de uma criança continuará sendo mãe para sempre e a mesma coisa com o pai. Não coloquem tudo a perder a troco de nada!
Está se popularizando muito agora no direito estudos sobre a “Comunicação Não Violenta - CNV”, o que é de fato bastante interessante, pois muitas vezes a pessoa profere ataques verbais mesmo sem saber, ainda que somente no tom de voz. Tem gente que pelo “oi” no telefone já coloca o outro em uma posição de embate. Vocês sabem muito bem do que estou falando, não é mesmo?
Para os pais que não conseguem dialogar de forma satisfatória, eu sugiro sempre que combinem o seguinte: “vamos conversar o mínimo possível, mas um mínimo necessário para preservar os interesses do nosso filho” (questões de saúde, direito de convivência, viagens, etc.).
Alguns dirão que eu estou escrevendo um conto de fadas, que eu não conheço a história de cada um e etc., mas para a esmagadora maioria dos casos existe uma solução! Não desistam de lutar pelos seus filhos! Não por você, mas por eles! Façam esse nobre “sacrifício”.
Por fim, compartilho com vocês um pensamento próprio: circunstâncias boas e ruins sempre existirão na vida de todos nós, mas existem pessoas que simplesmente reagem de uma forma “ruim” a uma situação “ruim”, enquanto outras conseguem reagir de uma forma “boa” e prudente, mesmo em situações desfavoráveis. Esta segunda pessoa, ao meu ver, tem “personalidade”. Uma pessoa que simplesmente reage ao ambiente de acordo com a circunstância apresentada não tem muita personalidade, é um mero “joguete das circunstâncias”, enquanto a que consegue reagir de uma forma positiva, mesmo em uma circunstância desfavorável, demonstra ter personalidade e equilíbrio emocional. Então, trabalhe a inteligência emocional para conseguir ter mais controle sobre sua própria vida. Não seja um mero “joguete do destino”.
Trabalhe, ainda, a linguagem, objetivando não colocar tudo a perder pela incapacidade de dialogar de forma satisfatória. Pense o seguinte: “Qual mensagem eu quero passar?”, “Qual a forma de dizer o que eu quero sem que isso gere nenhum atrito?”, “Como passar “tal” mensagem sem colocar o outro na defensiva?” e por aí vai.
Não existe uma razão suficientemente grande para você parar de lutar por um filho.
Redação de Estevan Facure .
Cá estava eu, em casa, quando o jardineiro veio tirar algumas dúvidas comigo a respeito de pensão alimentícia.- Então, Dr., tô dando conta de pagar a pensão pro meu filho não. Tá pesada odemais!
- Quanto o senhor paga, Fulano?
- Tô pagando 400 agora, mas queria baixar pra 300 ou menos, se tiver como.
- O seu filho mora em Uberlândia também?
- Mora sim, mas eu não vejo ele desde que eu me separei da mãe dele. Há 07 anos...
- O senhor tem outros filhos, além desse?
- Graças a Deus não, Dr. Hehe...
- Se eu conseguisse reduzir o valor da pensão para 200 reais, o senhor ficaria satisfeito?
- Claro! Nossa, seria muito bom! É mais ou menos isso que sobra no mês mesmo, só esses 200, seria perfeito.
- O senhor sabe que é impossível criar uma criança com 200 reais por mês, mesmo que a mãe ajude com mais 200? Sem contar o valor do imenso trabalho que é cuidar de um filho e de todas as abdicações que a maternidade exige?
Aqui ele já viu onde eu quis chegar e tentou se colocar na defensiva.
Talvez alguns colegas me critiquem pela minha abordagem nada comum, mas tudo bem, eu precisava dar esse choque de realidade nesse pai.
Continuando nossa conversa...
Eu: - Então, Fulano. Muitos pais pensam dessa mesma forma, ou seja, que o valor da pensão é pago com “o que sobra” do orçamento do pai, mas é preciso mudar essa visão urgentemente. Só o que o senhor ganhou hoje aqui em casa trabalhando meio período já paga esse valor integral da pensão que foi fixada. Os juízes costumam fixar entre 25 a 30 por cento dos rendimentos líquidos do pai de pensão.
- Mas a mãe não consegue comprovar o quanto eu ganho, eu não tenho carteira assinada.
- O senhor está pensando processualmente, ou seja, como em um processo ela conseguiria provar a sua renda, quando qualquer argumento processual é inferior aos argumentos morais. Não quero aqui fazer nenhum tipo de “pregação”, mas o senhor é PAI e tem condições de dar uma vida mais digna ao seu filho. Com todo o respeito, mas o senhor vê seu filho como um boleto a ser pago todo mês e nada além disso, o que é muito triste. Eu não conheço seu filho, mas tenho toda a certeza do mundo de que existe um vazio muito grande nele e um sentimento de rejeição tremendo pelas condutas do senhor.
Ele ficou me olhando, com um olhar meio introspectivo e pensativo. Continuei...
- Não me leve a mal, Fulano, mas permita-me expandir seu horizonte de consciência para o seguinte fato: ao chegar aqui em casa, você gastou uns dois minutos fazendo carinho em cada cachorro desta casa. Os brevíssimos minutos de afeto que o senhor deu aos meus cachorros, só hoje, supera todo o afeto que o senhor deu para o seu próprio filho nos últimos 07 anos. Isso é muito triste.
Acreditem, isso caiu como uma bomba nele. Ele tentou se defender.
- Ah, Dr., é complicado, viu... Você não conhece a mãe da criança.
- Eu tenho toda a certeza do mundo de que é complicado, sempre é! Sempre temos que resolver algumas questões mal resolvidas. Por mais que a mãe seja uma “louca desvairada”, que eu duvido que seja, isso não é motivo para o senhor não lutar pelo seu filho. Tenha em mente que cuidar de um filho é muito mais nobre do que conquistar bens materiais. Torne-se o homem que trabalha para prover a melhor condição de vida possível ao seu filho e isso te tornará uma pessoa melhor - e até mais feliz - bens materiais são menos importantes.
- Bens, Dr.? Eu te falo que não sobra dinheiro.
- Então, voltando ao começo da nossa conversa, imagine que, do dia para a noite, a cada 10 reais que o senhor colocasse no bolso, três evaporassem, o que aconteceria? O senhor morreria de fome? Provavelmente não. Provavelmente o senhor teria que reduzir a sua qualidade de vida, procurar um aluguel de uma casa mais em conta, parar de beber/fumar ou pelo menos reduzir bastante, repensar cada produto que o senhor coloca no carrinho de supermercado e etc... Não é mesmo? É exatamente isso que o senhor precisa fazer! Pare com essa mentalidade de que a pensão deve ser paga com “o que sobra”.
- Mas, Dr., a mulher vai gastar esse dinheiro tudo com ela.
- Não vai! E, mesmo se gastasse, veja isso como um descumprimento de dever dela, não seu. Sua parte o senhor está fazendo. Porém, lembre-se que o foco da conversa não é o dinheiro, mas o seu filho. O senhor tem interesse em tentar se reaproximar dele?
- Tenho, Dr., mas ela não vai deixar, o senhor vai ver.
E assim eu “vi”. Entrei em contato com a ex-companheira do jardineiro e consegui estabelecer datas e horários para o exercício do direito de convivência paterno. Claro, tudo isso com muita resistência de ambos os lados, mas deu tudo certo. Nós, advogados familiaristas, estamos acostumados com isso.
Depois de alguns meses de convivência com o filho, pasmem, o pai me procurou para aumentar espontaneamente o valor da pensão alimentícia.
Aqui, eu gostaria de dizer aos pais que a coisa mais comum do mundo entre casais são brigas. Muitas vezes diálogos agressivos causam um bem-estar momentâneo na pessoa que “põe para fora” tudo o que está sentindo, mas a duras penas. Sempre busquem dialogar da maneira mais respeitosa possível, por mais sacrificante que seja, pois a mãe de uma criança continuará sendo mãe para sempre e a mesma coisa com o pai. Não coloquem tudo a perder a troco de nada!
Está se popularizando muito agora no direito estudos sobre a “Comunicação Não Violenta - CNV”, o que é de fato bastante interessante, pois muitas vezes a pessoa profere ataques verbais mesmo sem saber, ainda que somente no tom de voz. Tem gente que pelo “oi” no telefone já coloca o outro em uma posição de embate. Vocês sabem muito bem do que estou falando, não é mesmo?
Para os pais que não conseguem dialogar de forma satisfatória, eu sugiro sempre que combinem o seguinte: “vamos conversar o mínimo possível, mas um mínimo necessário para preservar os interesses do nosso filho” (questões de saúde, direito de convivência, viagens, etc.).
Alguns dirão que eu estou escrevendo um conto de fadas, que eu não conheço a história de cada um e etc., mas para a esmagadora maioria dos casos existe uma solução! Não desistam de lutar pelos seus filhos! Não por você, mas por eles! Façam esse nobre “sacrifício”.
Por fim, compartilho com vocês um pensamento próprio: circunstâncias boas e ruins sempre existirão na vida de todos nós, mas existem pessoas que simplesmente reagem de uma forma “ruim” a uma situação “ruim”, enquanto outras conseguem reagir de uma forma “boa” e prudente, mesmo em situações desfavoráveis. Esta segunda pessoa, ao meu ver, tem “personalidade”. Uma pessoa que simplesmente reage ao ambiente de acordo com a circunstância apresentada não tem muita personalidade, é um mero “joguete das circunstâncias”, enquanto a que consegue reagir de uma forma positiva, mesmo em uma circunstância desfavorável, demonstra ter personalidade e equilíbrio emocional. Então, trabalhe a inteligência emocional para conseguir ter mais controle sobre sua própria vida. Não seja um mero “joguete do destino”.
Trabalhe, ainda, a linguagem, objetivando não colocar tudo a perder pela incapacidade de dialogar de forma satisfatória. Pense o seguinte: “Qual mensagem eu quero passar?”, “Qual a forma de dizer o que eu quero sem que isso gere nenhum atrito?”, “Como passar “tal” mensagem sem colocar o outro na defensiva?” e por aí vai.
Não existe uma razão suficientemente grande para você parar de lutar por um filho.
Estevan Facure